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DELICADEZA SELVAGEM (2020)

​No impasse de a imagem poder ou não traduzir o que se sente, o ensaio Delicadeza Selvagem busca a expressão daquilo que dificilmente é revelado por meio das palavras. Partindo de uma narrativa subjetiva na qual a personagem encontra-se tensionada entre as vidas e mortes experimentadas em sua existência, as fotografias que integram o projeto colaborativo entre as fotógrafas Carol Rahal e Sabrina Meira, apontam para a urgência na adoção de uma mudança de atitude para todas as sobrevivências da nossa espécie.

Criado para libertar as artistas de seus próprios fantasmas, as imagens evidenciam esta angústia dividida entre a razão, o corpo e a liberdade. O espectador experimenta estas pulsações através do outro e percebe quanto é doloroso aceitá-las e deixá-las fluir. 

Por meio de uma atmosfera sensível, invadida aqui e ali pela melancolia, os quadros em branco e preto, representam a figura humana, a partir de uma visão que nos remete aos padrões estéticos da arte clássica antiga. A dualidade se mostra de forma sensível por sua técnica e desnudos de aspecto escultural. 

Sem deixar de enfrentar questões essenciais e reflexões sobre o estar no mundo, o personagem cruza por abismos, enfrentando trajetos simbólicos, vivenciados por meio de cicatrizes, que o conduzem a viagens ao passado e a trilhas intocadas. Os desejos inalcançados emergem à medida em que observamos as fotografias e, de modo gradativo, atingem um estrondo. 

O processo criativo das artistas segue transgredindo e libertando-se das limitações, concedendo espaço à voz do personagem, que nos assusta quando tenta se manifestar. A tensão entre o que é revelado e o que não é permitido aos sentidos pulsa no ritmo de uma respiração ofegante e se apresenta como uma metáfora perfeita imbricada entre o grito e o silêncio.

Marly Porto

Curadoria e pesquisa fotográfica

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